domingo, 19 de agosto de 2012

Paradoxal

Experimento a poesia
Como experimento a vida.
Elas mudam de tom,
Mudam de ritmo,
Sem mudar nada.
Tornam-se diferente a cada nova experiência.
Hoje sou outra da que fui ontem
E minha poesia já não possui
A rima e a cadência de outrora.
Uma nova necessidade,
Uma nova perspectiva
E me torno minha poesia.
Não sou eu que a mudo,
Mas ela que me reconstrói sempre.
Capta de mim o extravagante
E o reorganiza em verso.
Não, não sou diferente do que já fui!
Sou igual àquilo que ela exige de mim.
Sou gente e por isso não sou nada.
Só existo nela
E ela através de mim
Me torna viva.

domingo, 6 de maio de 2012

ÀS ANTIGAS

     Uma história de amor começa assim, sem quê nem porquê. Eu era daquelas que acreditavam no amor moderno, aquele ao estilo Vinicius de Moraes, "eterno enquanto dure". Dez anos, dez meses, dez dias, dez segundos... Tempo suficiente para amar e desamar uma pessoa das mais diversas e intensas maneiras.
     Amei de formas diferentes a pessoas diferentes e amei com o amor mais sincero e extrovertido. Amei no barzinho, no condomínio, no teatro, no passeio ao calçadão e no perfume inebriante da maresia que me tomava por inteira ao entrar pela janela do carro. Amei de bom humor, de mal-estar, de camisola e só de meias. Amei por completo.
     Enxergava no rosto dos segundos, que de forma ligeira se precipitavam em minutos, um tempo que corria contra mim e contra o qual eu deveria me posicionar! Amar a todo o tempo foi o que decidi e amei de joelhos na igreja enquanto rezava para não desperdiçar a última gota do cálice do vinho do amor.
     Amei os drinks da noites e as noites que terminavam em dias e os dias que terminavam em drinks. Amei o amor que havia no não-romantismo, o amor livre de pressupostos e idealizações. Amei a liberdade de amar sem promessas e prometi nunca amar de outra maneira.
     Meu maior amor foi Gabriel. Um ano, dois meses e vinte e um dias de uma paixão declarada, recitada, esmiuçada e incomodamente tranquila. Nos amamos de verão a verão e amanhecemos no mesmo sentimento todos os dias de cada estação, comprando juntos casacos de lã e roupas de banho.
     Amei muito Gabriel durante toda a eternidade daquele amor de laços de fita, mas uma semana após nosso rompimento já amava ainda mais intensamente Rafael. Um amor pulsante, hiperativo, frenético e irritantemente inquieto. Nos amamos por cinco semanas e nunca compramos juntos uma roupa de banho.
     Muitos amores me seguiram nas próximas duas semanas e, como borboleta que voa de flor em flor, saltitei por todos eles, tirando-lhes o melhor e assim sendo feliz. Mas eu precisava comprar um biquíni, então telefonei para Gabriel. Tentei três ou quatro vezes, mas o número já não era o mesmo. Desisti do biquíni e voltei a viver e a amar.
     Amei Daniel e me encantei com toda a timidez desse meu novo amor.




(CONTINUARÁ)